domingo, 17 de maio de 2009


LAMENTÁVEL

Perder é uma lástima inevitável. De tudo perde-se, inclusive os lábios que se afinam com a idade, perde-se dentes e cabelos, a cor dos pelos, numa insana sequência até perder-se a vida.
Perder-se dentro da vida então, é coisa mais que comum e diária demais mas não menos lastimável.
Perdi paixões, dinheiro, tempo, sonhos. Mas quando perdi amor sempre foi a maior dor e o maior lamento. E a gente perde como se fosse uma obrigação de destino em um jogo que não se escolheu jogar. E a solução, dizem, é se conformar: fique cego ou tetrapégico, sem conseguir comer com as próprias mãos ou defecando em suas calças. Fique assim por que ainda lhe resta a sagrada vida.
É a esse conformismo que eu mal não consigo, e a cada vez mais, me adaptar.
Perdi, novamente, um amor maior de minha vida.
Fora a frase piegas, totalmente samba canção, a dor é verdadeira, cruciante, lamentável. Por isso, de vez em quando, re corro a reler um meu poema já antigo, rogando a são vinicius de moraes que me dê mais que luz, o seu samba de bênção.



VINICIUS NA BAGAGEM

poeta, me ensina
sua mágica.
me ensina a receita,
não para viver um grande amor
mas para viver sem tê-lo.
me explica o rito de passagem
do casal à solidão
do carnal ao sonho etéreo
de um corpo e seus sorrisos
e dengos de amor
quando o que vejo hoje
são cantos vazios e
pela casa encostados alguns retratos,
eletro-domésticos,
cacos
de poemas
começados em outro estilo,
em outro vínculo com a vida.
ai, a vida, poeta!
não fosse tanta bagagem perdida
e mais porvir, e mais por perder,
ninguém resistiria ao primeiro
amor desfeito
e destruiria o próximo
como a si mesmo.
poeta,
se encarna em mim e
me prepara para a paciência,
para abnegação, para
amar também as fezes e não
só a mesa farta,
o corpo belo,
a boa palavra.
para que a poesia sobreviva
mesmo que a alma desespere
e o corpo se torne vão.



Hoje, desde cedo, soube que é tarde demais.

marco. 17/05.2009


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