sexta-feira, 28 de agosto de 2009

SÃO AMOR

entre nós
não haverá solidão
pois que
dizemos sim
a alguns longos silêncios,
concordamos
com dilúvios e incêndios,
elementares,
sabemos:
nos amamos há milênios
sem hesitação.

* * * * * * *

é bom saber que não há mais distância entre nós. estamos sempre separados por uma eternidade de palavras mal trocadas. pelas tragadas do meu fumo e os tragos do meu álcool. bem à beira de sons malditos, fumaças e hálitos estamos nós, imóveis, não mais distanciados. sempre separados pelo mesmo número de palmos, sempre unidos pelas mesmas milhas de quilômetros, somos um termo perto do exato, somamos o muito e o pouco e o resultado é que entre nós só há um lapso. você quer possuir meu juízo mas não quer ser minha dona, quer partir sem compromisso mas não quer ser quem abandona. eu quero a presença e a carícia mas também a solidão mostrando as vísceras, um mar de carnaval vindo a tona e uma poça sem reflexos de delícias. é bom saber que entre nós não há mais drama ou menos comédia. não tem menos nada ou mais tudo. não há mais depressão ou menos euforia. não tem menos tempo ou mais espaço. chegamos a um ponto: somos dois pontos milimétricamente separados, anosluzmente unidos. não mais. nem menos. estamos sempre unidos por uma infinidade de bons pensamentos nunca revelados. por cargueiros de contêineres de desejos e anseios e gozos sempre em viagem, nunca aportados. dividimos o pouco e o muito e o resultado é que entre nós, não podemos desatar os nós e não sabemos desfazer os laços. chegamos a um ponto que não é cursivo e nem é parágrafo. são dois pontos: eqüidistantes entre o não e o sim. não estações entre maio e agosto, não constelações entre gêmeos e leão, sim chuva e sol entre agostos e maios, sim sóis e luas entre leões e gêmeos. tudo de todo o errado e o acertado entre a fêmea macha e macho fêmeo. animais com instintos sazonais, tanto se habitam como se nomadeiam, por aí, por aqui, por lá, por acolá.
é bom saber que não há mais ou menos movimentos entre nós? é dom sentir que está tudo na mesma e que esse mesmo não é plenitude mas é redundância? e o tom de voz não se recata nem se alteia pois que não há gás para a memória e nem há brisa para a esperança? é bom viver assim, donos de todo um universo não mais infinito nem eterno, simplesmente amparado no que somos?: dois pontos.



marco/28.08.2009.

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