domingo, 8 de novembro de 2009


ESQUETE

meu coração hoje em dia é deserto insalubre, deserto gelado e não de febre, deserto sem horizontes, sem limites, sem oásis, sem fogueiras ou fontes, certo de que o fim há de vir, qualquer dia desses, e espera que esse dia seja o mais próximo possível da minha última palavra sim.meu coração ontem em dia cada vez mais era um músculo do que um nervo sensível. estou ficando duro, obtuso, mudo diante da realidade. hoje sou um homem maduro em que os pelos escuros, de um dia para o outro, se revelam brancos. e estou falando não só da cabeça mas também das mãos, braços, barba, peito, narinas, pentelhos e cuelhos.
meu coração envelheceu sem pontes. por isso, talvez, hoje ele não se leva a nada. meu coração ateu não tem força nem propriedade para acreditar em mais nada. nem acreditar em mais tudo. muito menos creditar à alguma coisa a se chamar destino a sua pobre e pequena desgraça.
hoje meu coração é sem graça. não te pega na mão, não te diz um gracejo, não te leva para o sofá, muito menos para a cama no quarto dos fundos aonde essa hora ninguém vai lá mesmo. hoje meu coração despreza furacões, desdenha de paixões, se ri de tusinames, repele amor de pele, afronta legiões para se manter incólume e solitário e desgraçado e desassombrado de sua mesma espécie.
meu coração hoje é um troço escroto, um rei morto sobre os braços de sua plebe.

marco/7.11.2009.

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