sexta-feira, 27 de novembro de 2009


MEUS EUS

quero todas as memórias, se possível em cataratas, para chorar de vez o que se foi e, depois, revoltar os instintos – aqueles dos mais ariscos bichos – despertar os indícios do que poderá, de futuro, me advir.

quero todas as histórias, as misérias, os lábaros, os mistérios, os mapas, os minérios, as previsões do tempo, as profecias desacontecidas, os méritos sem glória, quero todos os poemas escritos em úmidos guardanapos, quero todas a as idades, anuidades, de todos os clubes, de cada gueto, do mesmo cartão, de cada ano vivido à esmo. quero todas as cidades, inclusive e peremptoriamente as que não conheço.
quero um amor louco de pedra, feição de fedra em leito de apolo. quero amar feito uma lesma sua sua desconcertante linha, às vezes parecendo indecisa, outras retilínea como a vespa, mas que sabe aonde vai e sempre chega, aonde quer que venha a chegar, porque é da vida sermos curvas e arestas. por que por maior que seja a mentira, quando alguém se fia, torna-se ela verdadeira.
e o verdadeiro amor não é o que cabe em si mas o que mais navega. e o mais sincero bem é aquele que te dá um braço pra não perder a perna. pois que poderá caminhar e te encontrar e ainda te abraçar e com cinco dedos te indicar o próximo caminho para uma outra promessa.
quero todo o infinito para fazer um currículo do universo. mentira: queria mesmo é ter os seus olhos nos meus, reter seus carinhos, sentir que o astrolábio indica o que é nosso e não o que sempre se perde nos horizontes entre luzes de vitórias e os caos dos apogeus.

marco/26.11.2009.

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