domingo, 3 de janeiro de 2010


TRÊS TRECHOS

FALTA MINHA
me faz falta um encosto de pele deslizando, um encontro, a boca muda mas sedenta, os olhos densos não de lágrima mas de luz. tento mas não acho mais, acho que não lembro da primeira nem muito menos da última vez em que me senti assim: intenso e perplexo, tenso na medida exata do reflexo, sendo senda e recebendo dádiva, entendendo o sentido do amor, sentindo o sentimento de estar no ar sem voar, em uma centelha de momento saber um universo de carinho.
me faz falta sonhar.

MEA MEIA CULPA (Romance Policial)
às vezes esqueço o nomes das pessoas. os rostos, de quando em vez. os corpos quase nunca. mas é difícil localizar um corpo sem rosto e sem nome. somente pela arcada dentária ou pelas impressões digitais, histórias policiais. se bem que as tais impressões corporais também são únicas, pessoais e intransferíveis. só que tem que: recorrer a seus atos para serem identificadas, ou seja, o suspeito tornando ao lugar do crime.
então tá: vou declarar que você deixou pistas, epitélios, pelos, dna. você deixou suor, lágrima, batom, música no ar, cheiro intenso.
já dei meu depoimento. aguardo você voltar e confessar. sei que é nossa a culpa. por isso não posso pagar a pena sozinho. vou requerer prisão conjunta.

QUAL METADE?
se fosse possível escolher, nem saberia a qual meu voto daria: querer a metade do sonho sonhado ou a outra parte, sem final certo, ao deus dará a dinastia de minhas ilusões e desvarios? assim como não como nada disso de parte da frente sem parte de trás, ou você é inteira ou vá virar moeda e jogar cara e coroa, procura outra alma crédula e dela faz sua fonte de prendas, sua fonte de renda, sua fronte em frente que acredite em suas lendas.
se fosse assim, e não nunca é passível julgar, nem poderia da ação para a palavra transliterar.
na verdade, só quero e gostaria de poder amar um amor simples e cheio do poder do alimento que nos traz o prazer, o tesão, a alegria, que se surpreende em um amor pleno de vida, querendo mais dias, e noites, e gentes e planos e cardápios e dentro desta mais outras vidas. porque somos sós mas somos múltiplos. se for algum dia possível, eu quero dividir uma nossa semente: suma seja nós; soma seja a gente. depois alguém escolhe, alguém colhe, o que prestou, o que deu sabor, a partir dessas almas perenes.
(quando te escolhi esqueci de anotar que só queria você só e somente você, simplesmente.)

marco/03.01.2010.

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