segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009


OLHA!

Olha, como já disse alguém: “sei que ninguém pode tirar ninguém dos labirintos (os labirintos eleitos, aqueles em que cada um se reconhece).” Mas sei também que é bom ouvir outra voz quando, surpreendentemente, acha-se que está sozinho, só, responsável por seu próprio solo.

É assim na música, na dança, na vida. Solar um bolo é fácil: é só falsear na receita da massa. Solar na vida é fogo! Tem que encarar, além da platéia, o espelho do camarim lá na solitária, lá antes e depois do banho, lá onde a estrela deve brilhar também sozinha, única, cara a cara, téte-a-téte, poderosa de si mesma.

Olha, desse fogo já provei muito, por mim e por outros; já provei e adorei, já provei e detestei, já e demais e ainda hoje provo como quem já sabe o gosto. Mas sempre é surpreendente. Apavora a forma que os fogos queimam sempre de maneira diferente e ardem em nós dilacerando as peles e carnes de formas inéditas. É desesperador como o fantasma da solidão se incorpora na gente e nos faz crer que somos os únicos espíritos do mundo tão bem mal assombrados. Fantástico como a auto piedade e comiseração se tornam maiores que qualquer altruísmo, que qualquer perfil de caráter, que toda e qualquer fé em conceito, procedimento ou religião.

E isso tudo porque, só porque, estando em um labirinto, achamos que estamos perdidos. E não achamos nada. Só achamos que estamos perdendo. É um jogo de palavras sofista mas é a mais pura e pagã verdade. E a verdade é que ela não existe. E nem a razão. O que existe – quando existe – é o sentimento. E esse é único, pessoal e intransferível. Ninguém pode tirar ninguém de seus labirintos. Mas talvez possa, com mensagens de fumaça, assovios, conversas gritadas, talvez e muito talvez mesmo, conduzir uma esperança nos sentidos, despertar um alento mínimo, chamar vem cá ou dizer eu te amo.

Antes, conte até dez, cem, mil; antes de pedir para outrem, peça a você. Antes de contar com outros, conte consigo. Antes de tudo se olhe nos espelhos – todos os labirintos tem mil espelhos – e quando se vir com beleza, desconfie; quando se refletir medonhamente, desconfie também. Nada é essencialmente o que parece. O avesso também é parte do ser.

E sabendo: nada é culpa, nada é destino, nada é tudo.

Tudo isso pra dizer que, se for o caso, conte comigo.


marco/23.02.2009
carnaval na bahia.

p.s.: o alguém que já disse antes o escrito entre aspas lá na primeira frase é o poeta José Carlos Capinan.


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