quarta-feira, 5 de agosto de 2009

"solidão é lava que cobre tudo
amargura em minha boca
sorri seus dentes de chumbo".
Paulinho da Viola

AMARGOSA

solidão é aquela pepita de um dourado tão especial que não se negocia. solidão é aquela pétala metal que sai direto da peneira do batedor e cai nas mãos da mais fina relojoaria. solidão é palavra para se publicar e adorar: única, em uma página de dicionário; pública, aos pés da grade de um confessionário.
solidão é tudo, não tendo nada; solidão é um múltiplo, mesmo sendo senzala. solidão é o redor pleno de escuro; solidão é a seda da perda de escrúpulos.
[solidão é um clarão tão luz que abre os olhos à força e o que se vê é só deserto, metro a metro só desterro e mágoa, e nenhuma água para lavar as gazes dos curativos que ainda muito são precisos.]
solidão é aquela pedra que não passou pela garganta, que escoou do rim mas não verteu pela uretra
solidão não é passatempo, meu amor, solidão é tempo que não passa. mesmo nós todos sabendo que a morte é certa.


marco/05.08.2009.

Um comentário:

  1. Marco, dobra esse lençol encardido que lhe cobre as feridas, dobra a barra da calça, dobre a língua porque a dor do amor é para os iniciados, banquete para paladar refinado e coração de aço, não para moços de fino trato. Dobra a esquina de sua rua e recomece. Anda logo que as calçadas esburacadas esperam seu passo de bicho desengonçado. Anda logo que o amor é impaciente e espera com dentes crispados e boca escancarada.
    Eu sei porque sou aquela uma, a dona doida que varre o lixo das calçadas com o cabelo desgrenhado, aquela cujo grito estilhaça cristaleiras e depois cata os vidros, cola os cacos e mira vendo a cara recortada, quebra cabeça, frankenstein, dorian gray de saias. Te empresto meu espelho.

    ResponderExcluir