segunda-feira, 7 de setembro de 2009

O AMOR DE NOVO

aquele cheiro intenso de terra surrada pela chuva forte em um dia de grande calor, quando brota o amor tem esse cheiro. um sacudimento de barco indo contra as ondas num mar encapelado, o amor quando nasce traz essas golfadas para o meu lago. um fechar os olhos e ver a luz, um abrir os olhos e ter a sensação de sonho, isso o amor faz quando surge. dentro de mim um touro raivoso que se deixa alisar, um potro novo escoiceando os ares a relinchar, um gato encurralado que arregaçou todas as unhas e agora deita pesado e cunha seu nervos numa almofada, o amor quando estréia quer mostrar ao mundo sua odisséia e requer aplausos íntimos, afagos muitos, revelações de segredos, extratos de todos os fluidos exalando seus desejos, o amor exige cuidados dedicados e imensas festas, quando se apresenta. suor frio de emoção e lágrimas quentes de prazer, levitação sobre as camas, passeamentos pelas ruas, de tudo o amor quer provar o gosto e o aroma, do musgo e da amora, da saliva e do soluço, o amor quer provar que é amor, quando se mostra. saber o sabor do estertor e o odor da convulsão, ter o tato nas entradas para as entranhas, a visão dos eleitos que vislumbram maravilhas, quer ouvir a voz dos arcanjos e os sussurros mais sutis e silabados nas bocas e ouvidos, o amor quer se nutrir de toda beleza e ânimo, quando assim emerge. cheio de si, pleno em mim, sangrado profundo, arranhado na pele, curado em apuro, batismado herege, o amor induz espetáculos de sóis e luas, estrelas e satélites, produz em meus olhos luz, em seus olhos febre, reduz a importância da vida à sua efeméride. e aquele senso de levitação, aquela emoção de vislumbrar o oculto, aquela noção do real no absurdo, aquele incontido desejo de fome e de sede, aquele caminhar sem passado, aquele desprezar o futuro, aquele exasperar o presente, tem disso um tudo aquele a quem o amor toca, quando se acerca em volta, quando se põe a frente. um cadinho para quem vê, um caldeirão para quem sente. quando vem, o amor instaura em mim, impaciente e soberana, sua extraordinária riqueza, humildemente, ao meu deleite.

marco/07.09.2009.

Nenhum comentário:

Postar um comentário