segunda-feira, 7 de setembro de 2009

SUCO E MUCO

olhar no espelho e ver você: na menina dos olhos, lá está. fazer o quê? dizer que não embeleza meu rosto esta sombra decalcada nas pupilas? lembrar que é de lá que nasce a lágrima de angústia e a de tanto rir? na verdade não vim aqui para chorar. nem de pesar nem de graça. só para escovar os dentes, gengivas sangrando, baixa imunidade; respingar de colírio o glaucoma, visão central; a barba brota grisalha, as lentes dos óculos sujas como um passado infeliz, as orelhas crescendo; ser sabedor de que a verdade não existe e de que o tempo não tolera retardatários. então sim, já te vi hoje, muito bem, sem mais saudade, com tempo ruim todo mundo também dá bom dia.
o amor faltou ao labor e não mandou licença médica, nenhuma justificativa. cortar o ponto, os pulsos ou a tolerância será a maior sabedoria? fazer o quê? trabalhar dobrado, lidar duplicado em miudezas de tarefas, com a vida cicada de bem, lidar com o mal cicatrizado a sal no diário.
o amor fez falta e não mandou licença poética, nem uma onomatopéia. olhar no espelho do meio do dia e saber: só vim aqui lavar as mãos. como e bebo o que posso, carne e folhas, muco e suco, sebo e ossos, sexos e olhos, novos crus e velhos passados. urino e descomo o que é não nutritivo, me desfaço do desnecessário. satisfeito não, empanzinado, tenho muitas palavras para me livrar do amar, amém. assim seja a minha cara lavada, a minha alma enxovalhada, a palma da mão sem destino, a calma de quem está em choque, a marra de seguir falindo, indo, tarde afora, noite adentro.
amanhã o amor vai voltar, mandar aviso prévio, se suicidar em um prédio frente ao meu? a escuridão relampeja e trovoa, coisas de tempestades. fazer o quê? tapar os espelhos com lençóis e lenços, entre os quais hoje não vou dormir, amanhã meu nariz assoar. fechar os olhos.


marco/06.09.2009.

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