sábado, 28 de fevereiro de 2009


CÓS E BAINHA

Mal e porcamente. Foi a expressão que me disseram.
Olha, cá pra nós, aceito bem o mal mas porcamente é demais pra mim.
O que é que se quis dizer com isso? Eu só perguntei: Como é que vai a vida?
Juro que pra mim é demais uma resposta assim tão negativa e suína.
Mal e porcamente?
Me deixe, me inclua fora dessa, me poupe, me diga que eu não ouvi!
Porque tamanha agressividade contra si mesmo?
E ainda mais é uma questão de higiene. E muito provavelmente de higiene mental.
Essa pessoa eu nem quero ver ou ouvir, tá me fazendo mal, tá me sujando os sentidos. Só quero quando estiver Bem e Limpamente.
Quando trouxer o bom bril e o detergente.
Creio que fico revoltado à tõa e inocentemente. Mas isso é coisa que se diga?
Cá para nós, o que é que tem a ver/haver
a sianinha com o retrós
ou a bainha com o cós?
Me deixe!
Me basta de anzol que eu não sou peixe.


marco/27.02.2009.
sexta-feira de cinzas.

DE MONTROS, AMOR E OUTRAS COISAS TRIVIAIS.

Olha, como eu tenho te falado: nada é monstro, nada é fada. Dá pra entender?
Nada é mestre, nada é fado. Ainda não dá pra entender?
Você não é Pinóquio, nem Peter Pan, nem Sininho. Você pode dizer, como o Tim Maia:
‘Eu não bebo nem fumo nem drogo nem faço ousadia. Só minto um pouquinho.’
Olha, isso é mesmo assim do homem, quero dizer, do ser humano, racional, o mais mesquinho e miserável dos animais do planeta.
[e nada é gigante, nada é pigmeu. e tudo é monstruoso e perverso e apolíneo e angélico. não, não é nada disso. nada do que eu disse, nada do que achas, tudo que perdemos, quiçá, nesses devaneios de palavras]
Só não vale é dizer que você, que eu, não somos uns deles. Somos sim. Da mesma raça humana que abarca legendas como Leonardo da Vinci, Einstein, Hitler, Alexandre o grande, Mussolini, John Lennon, Mazzaropi, Oscar Niemeyer, Idi Amim Dadá, e outros Osamas, Obamas e Lulas. Somos todos da mesma raça animal racional humana. E acho que é bom a gente nunca se esquecer disso, principalmente quando falamos dos outros, do próximo, ou mesmo daquele que está longe.
Pois é! Não fique em prisão domiciliar mas também não fique na rua como perdido. Se você tem casa, quero dizer, paradeiro; se você tem lugar, descanso do guerreiro; se você tem chão, teto e paredes. Então nem pense em amor: isso é luxo! - [depois a gente fala nisso] – porque amor não é pra quem quer, é pra quem pode. Pra quem pode se dar ao luxo de, além de tudo, querer ter sentimento – e verdadeiro . É complicado à bessa! A gente fala depois sobre isso que é uma messa!
Olha, me olha mas não me diz que eu hoje já falei demais. Me clama que, no máximo,eu sou costumaz.
Me olha olhonolho e recita que eu ainda sou um bom rapaz.



marco/26.02.2009.
quinta-feira de cinzas.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009


OLHA!

Olha, como já disse alguém: “sei que ninguém pode tirar ninguém dos labirintos (os labirintos eleitos, aqueles em que cada um se reconhece).” Mas sei também que é bom ouvir outra voz quando, surpreendentemente, acha-se que está sozinho, só, responsável por seu próprio solo.

É assim na música, na dança, na vida. Solar um bolo é fácil: é só falsear na receita da massa. Solar na vida é fogo! Tem que encarar, além da platéia, o espelho do camarim lá na solitária, lá antes e depois do banho, lá onde a estrela deve brilhar também sozinha, única, cara a cara, téte-a-téte, poderosa de si mesma.

Olha, desse fogo já provei muito, por mim e por outros; já provei e adorei, já provei e detestei, já e demais e ainda hoje provo como quem já sabe o gosto. Mas sempre é surpreendente. Apavora a forma que os fogos queimam sempre de maneira diferente e ardem em nós dilacerando as peles e carnes de formas inéditas. É desesperador como o fantasma da solidão se incorpora na gente e nos faz crer que somos os únicos espíritos do mundo tão bem mal assombrados. Fantástico como a auto piedade e comiseração se tornam maiores que qualquer altruísmo, que qualquer perfil de caráter, que toda e qualquer fé em conceito, procedimento ou religião.

E isso tudo porque, só porque, estando em um labirinto, achamos que estamos perdidos. E não achamos nada. Só achamos que estamos perdendo. É um jogo de palavras sofista mas é a mais pura e pagã verdade. E a verdade é que ela não existe. E nem a razão. O que existe – quando existe – é o sentimento. E esse é único, pessoal e intransferível. Ninguém pode tirar ninguém de seus labirintos. Mas talvez possa, com mensagens de fumaça, assovios, conversas gritadas, talvez e muito talvez mesmo, conduzir uma esperança nos sentidos, despertar um alento mínimo, chamar vem cá ou dizer eu te amo.

Antes, conte até dez, cem, mil; antes de pedir para outrem, peça a você. Antes de contar com outros, conte consigo. Antes de tudo se olhe nos espelhos – todos os labirintos tem mil espelhos – e quando se vir com beleza, desconfie; quando se refletir medonhamente, desconfie também. Nada é essencialmente o que parece. O avesso também é parte do ser.

E sabendo: nada é culpa, nada é destino, nada é tudo.

Tudo isso pra dizer que, se for o caso, conte comigo.


marco/23.02.2009
carnaval na bahia.

p.s.: o alguém que já disse antes o escrito entre aspas lá na primeira frase é o poeta José Carlos Capinan.