quarta-feira, 27 de maio de 2009


memorial niemeyer, niterói, rj, brasil

PSIU!

Hoje é só um alô pra ver se algum dia você me olha, mesmo de esgelha.
Não quero andar no telhado quebrando telhas, muito menos te acordar a um hora dessa!
Então fica assim tudo profundo, pro fundo um túmulo negro azul e cinza. Fica assim pró forma.
Mas todo o tempo estive falando de amor.

terça-feira, 19 de maio de 2009

SE EU QUISESSE FALAR COM DEUS

Às vezes fica chato demais essa coisa de ficar ficando falando de amor e amor e amor. Na verdade, o melhor não é falar de amor e sim fazê-lo.


Então vou falar de outra coisa chatissima: vamos falar de deus.

[ E ainda que a cultura do planeta determine que não há um deusinho só mas muitos, multiplicados em dezenas, talvez centenas de nomes, ainda há de haver sempre um imbecil que, com o poder de presidente (mesmo que por acaso) da república, ordene se imprimir em todas as cédulas de dinheiro desta nação brasileira: “Deus Seja Louvado”. Acho eu que melhor seria, para esta nação tão multitudo, que não se falasse nada disso em notas de valor. Mas se fosse grandissíssima mesmo a vontade devota desse cara, senador do Amapá hoje em dia, que fosse generoso como um maribondo de fogo, atingindo a todos nós, e marcasse a história: “Que Todos Os Deuses Sejam Louvados”. Seria justo, segundo a Constituição, e não ridículo como abandonar o povo do Maranhão e sua residência. Quem abandona seu lar vive na rua dos outros. Nega seus endereços e o seu único destino é um inqualificável sumidouro.]

Mas na verdade, ou na mentira, o papo é outro: o pop astro é deus.

“O que faz o homem sobre a Terra? Luta para neutralizar o acaso.
Eis a principal necessidade humana: driblar o imprevisível, a bala perdida.
Concebemos Deus justamente porque buscamos nos proteger da bala perdida.
Deus é a providência que elimina o acaso. É o antiacaso.
Gostaria de acreditar, mas não acredito.
Uma pena... Poucas crenças podem ser mais reconfortantes do que a fé em Deus. Ele enche de sentido as nossas vidas sem sentido.
Eu não sou cachorro, não!, cantava o Waldick Soriano, lembra? Uma frase sugestiva, já que os homens realmente não se veem como cachorros. Os homens anseiam uma condição sublime.
Não à toa, inventaram Deus: para que Deus os criasse.
Se você pensar direito, todas as coisas abstratas ou concretas que a humanidade constrói têm a intenção de dar significado à vida — e, não raro, um significado especial.
Nós, que frequentemente praticamos atos injustos, inventamos a justiça.
Por quê? Porque desejamos ser melhores do que somos e tornar menos insolúvel o mistério de viver.
A arte surge pelo mesmo motivo.
Nenhum poema, de nenhum poeta, me parece imprescindível.
Dante Alighieri poderia não ter escrito A Divina Comédia. Ou poderia tê-la escrito de outro jeito.
Novamente: tudo se subordina à lei do acaso e da necessidade”.
Ferreira Gullar.

E são claros os acasos e as necessidades.

Mas aguarde: os deuses tendem a serem justos assim como os vulcões, os ladrões, os amantes e os tsunamis.
Por isso mesmo, meu amor, somente me olhe nos olhos e me ame, e finja que mente bastante e me diz que não vai porque ali na esquina é muito distante...............


marco/19.05.2009.

domingo, 17 de maio de 2009

VERDE ESPERANÇA

Há coisas tão sutis e ao mesmo tempo absurdamente arrebatadoras.
Nunca hei de esquecer de que te beijar sempre foi uma das maiores delícias que provei na vida. Até mesmo melhor que aquele melhor sexo que tenho lembrança. Se foi com você não sei, não tenho lembrança, mas provavelmente também pode ter sido.
Mas o beijo, o beijar, o se envolver no jogo da linguagem, da salivagem, dos dentes e olhos que se abrem e fecham, relaxam e apertam, no fogo das vermelhas gengivas. Beijo é uma coisa quase genital. E é genial. Que animal inventaria coisa melhor? Outros bichos sabem se lamber – e nós também – mas além de rir, o ser humano é o único animal que beija.
Que profundamente beija para demonstrar seu carinho e seu desejo.
Um dia, na vida, gostaria de voltar a te beijar. Como sempre foi, quando foi bom: sem pressa e cheio de sabor. Mas sei que uma coisa é a recordação do perfume e outra é suspirar ao sentir o seu palpável cheiro e odor.
Há coisas tão flagrantes e ao mesmo tempo absurdamente sabotadas.
Como um amor que não se entrega somente porque diz que já sofreu demais, como se sofrer não fosse um sinônimo óbvio a mais.
Mas um dia, tenho verde esperança, ainda, de novo, te beijo.
E a plenitude me virá.



m.17/05/2009

LAMENTÁVEL

Perder é uma lástima inevitável. De tudo perde-se, inclusive os lábios que se afinam com a idade, perde-se dentes e cabelos, a cor dos pelos, numa insana sequência até perder-se a vida.
Perder-se dentro da vida então, é coisa mais que comum e diária demais mas não menos lastimável.
Perdi paixões, dinheiro, tempo, sonhos. Mas quando perdi amor sempre foi a maior dor e o maior lamento. E a gente perde como se fosse uma obrigação de destino em um jogo que não se escolheu jogar. E a solução, dizem, é se conformar: fique cego ou tetrapégico, sem conseguir comer com as próprias mãos ou defecando em suas calças. Fique assim por que ainda lhe resta a sagrada vida.
É a esse conformismo que eu mal não consigo, e a cada vez mais, me adaptar.
Perdi, novamente, um amor maior de minha vida.
Fora a frase piegas, totalmente samba canção, a dor é verdadeira, cruciante, lamentável. Por isso, de vez em quando, re corro a reler um meu poema já antigo, rogando a são vinicius de moraes que me dê mais que luz, o seu samba de bênção.



VINICIUS NA BAGAGEM

poeta, me ensina
sua mágica.
me ensina a receita,
não para viver um grande amor
mas para viver sem tê-lo.
me explica o rito de passagem
do casal à solidão
do carnal ao sonho etéreo
de um corpo e seus sorrisos
e dengos de amor
quando o que vejo hoje
são cantos vazios e
pela casa encostados alguns retratos,
eletro-domésticos,
cacos
de poemas
começados em outro estilo,
em outro vínculo com a vida.
ai, a vida, poeta!
não fosse tanta bagagem perdida
e mais porvir, e mais por perder,
ninguém resistiria ao primeiro
amor desfeito
e destruiria o próximo
como a si mesmo.
poeta,
se encarna em mim e
me prepara para a paciência,
para abnegação, para
amar também as fezes e não
só a mesa farta,
o corpo belo,
a boa palavra.
para que a poesia sobreviva
mesmo que a alma desespere
e o corpo se torne vão.



Hoje, desde cedo, soube que é tarde demais.

marco. 17/05.2009


terça-feira, 12 de maio de 2009

VÔO CEGO

Eis que então, diante de nossos olhos, surge a canção Vôo Cego, de Paulo Ciranda e Marco Valença, ilustrada com fotos de marco. A letra pode ser lida na postagem anterior a esta.

Hoje peço que nossos olhos sejam mais ouvidos.

Quem me dera ter o olfato e o paladar e ter o tato para ser todo, meu amor aqui e agora, em meus cinco sentidos.

marco/12.05.2009

segunda-feira, 11 de maio de 2009

QUEM TEM OLHO É REI

Me olho no olho e desde sempre
colho aquilo que escolho
E seco e molho o menino e as meninas dos olhos
E rio e choro acidentes fascinantes e desastres medonhos
Me olho no olho e desde sempre
Sou um cachorro sem dentes
Um pródigo sem nascente
Um protótipo inconseqüente
Um falso cão sem dono.
Me molho nos olhos
Mas no que transpiro
Também evaporo.
*
Mas te sussurrando ao pé do ouvido ao ombro do olhar: há algum muito tempo creio que de todas as canções que já escrevi, esta com música de Paulo Ciranda (abraço, Parceiro!) não sei de que data, é o meu maior espelho:

VÔO CEGO

Sei
Muitas vezes foi assim
Desisti ou fui por ir
Outras tantas nem tentei

Sei
Quantas chances que não vi
Fiz que não, fingi que sim
E no fim, nem...

Eu sei que deixei
A vida correr
Por todo esse tempo
Feito um projeto
Só de sobras de obras
Que nunca
Que eu me completo

Eu sei que voei
E a vida se fez
De nuvens de areia
Feito um deserto
Quantas vezes foi pra mim
Um vôo cego
Tantas vezes me perdi
Num vôo cego
Toda a vida é pra mim
Um vôo cego


p.s.: fico devendo o áudio.

CUSTO E BENEFÍCIO / CUSTA E BENEFICIA


Olho no olho tá difícil até
de conversar com meus espelhos,
com os focos das lentes de meus óculos,
com meu tímido umbigo,
com os meus grisalhos pentelhos.
Mas a vida segue, simples e complexa,
d’hoje e d’antanhos;
minha íris olha só o pires branco
não o teu olho verde;
mas a vida serve: de coisa alguma
ou de nada um pouco,
de porra nenhuma ou de coisa pouca,
de sério sujeito ou de louca porra.
Mas a chuva seca e a torrente jorra;
folha que floresce quando a raiz podra.
Justo que maduro o amor se ignora,
só porque perdeu causa e consciência,
então esqueceu porta e moratória,
sem ter paciência, pena e lenimento, sem rever memória.
Mas a chuva torna e a corrente medra;
folha que esverdeia quando a raiz torra.
Justo que adulto o amor não adora,
só porque venceu data e permanência,
então pereceu por não mais história,
sem ter mais ciência, clima e alimento, segue sem vitória.

E a vida segue mas tá difícil costurar meus artifícios de amar.
Olho no olho eu te digo
– embora seja sempre seqüela a sequência bela de te olhar:
Felicidade eu não vivo mas tão infeliz eu não estou.
E nem sei o que prefiro:
Se quero ser um vivomorto ou o morto vivo que sou.
E tudo é custa do amor, e tudo questão de dúvida .
Quem não amou de paixão, quem não chorou suas dívidas?




m. 06/05/2009

terça-feira, 5 de maio de 2009

MOSAICO

Olho no olho, hoje, só posso te dizer:
Se faz espelho, me olha, me diz pra gritar socorro!
FOI MAIS

ainda bem
que sobrou
e não faltou
ainda mais
se foi mais
e não menosprezou

ainda bem
que foi bem
não maldição
ainda mais
se foi mais
muito mais
que uma só canção.



uma letra de música para Paulo Ciranda.

marco. 02/05/2009.
MEDALHAS


Palavras do poeta Paulo Leminski que tem música de Itamar Assumpção.
Ouça a canção cantada por Zélia Duncan no disco PréPósTudoBossaBand.


DOR ELEGANTE

Um homem com uma dor
É muito mais elegante
Caminha assim de lado
Como se chegando atrasado
Andasse mais adiante
Carrega o peso da dor
Como se portasse medalhas
Uma coroa, um milhão de dólares
Ou coisa que o valha

Ópios, édens, analgésicos,
Não me toquem nessa dor
Ela é tudo que me sobra
Sofrer vai ser a minha última obra

Ela é tudo que me sobra
Viver vai ser a nossa última obra

marco.05.05.2009