terça-feira, 19 de maio de 2009

SE EU QUISESSE FALAR COM DEUS

Às vezes fica chato demais essa coisa de ficar ficando falando de amor e amor e amor. Na verdade, o melhor não é falar de amor e sim fazê-lo.


Então vou falar de outra coisa chatissima: vamos falar de deus.

[ E ainda que a cultura do planeta determine que não há um deusinho só mas muitos, multiplicados em dezenas, talvez centenas de nomes, ainda há de haver sempre um imbecil que, com o poder de presidente (mesmo que por acaso) da república, ordene se imprimir em todas as cédulas de dinheiro desta nação brasileira: “Deus Seja Louvado”. Acho eu que melhor seria, para esta nação tão multitudo, que não se falasse nada disso em notas de valor. Mas se fosse grandissíssima mesmo a vontade devota desse cara, senador do Amapá hoje em dia, que fosse generoso como um maribondo de fogo, atingindo a todos nós, e marcasse a história: “Que Todos Os Deuses Sejam Louvados”. Seria justo, segundo a Constituição, e não ridículo como abandonar o povo do Maranhão e sua residência. Quem abandona seu lar vive na rua dos outros. Nega seus endereços e o seu único destino é um inqualificável sumidouro.]

Mas na verdade, ou na mentira, o papo é outro: o pop astro é deus.

“O que faz o homem sobre a Terra? Luta para neutralizar o acaso.
Eis a principal necessidade humana: driblar o imprevisível, a bala perdida.
Concebemos Deus justamente porque buscamos nos proteger da bala perdida.
Deus é a providência que elimina o acaso. É o antiacaso.
Gostaria de acreditar, mas não acredito.
Uma pena... Poucas crenças podem ser mais reconfortantes do que a fé em Deus. Ele enche de sentido as nossas vidas sem sentido.
Eu não sou cachorro, não!, cantava o Waldick Soriano, lembra? Uma frase sugestiva, já que os homens realmente não se veem como cachorros. Os homens anseiam uma condição sublime.
Não à toa, inventaram Deus: para que Deus os criasse.
Se você pensar direito, todas as coisas abstratas ou concretas que a humanidade constrói têm a intenção de dar significado à vida — e, não raro, um significado especial.
Nós, que frequentemente praticamos atos injustos, inventamos a justiça.
Por quê? Porque desejamos ser melhores do que somos e tornar menos insolúvel o mistério de viver.
A arte surge pelo mesmo motivo.
Nenhum poema, de nenhum poeta, me parece imprescindível.
Dante Alighieri poderia não ter escrito A Divina Comédia. Ou poderia tê-la escrito de outro jeito.
Novamente: tudo se subordina à lei do acaso e da necessidade”.
Ferreira Gullar.

E são claros os acasos e as necessidades.

Mas aguarde: os deuses tendem a serem justos assim como os vulcões, os ladrões, os amantes e os tsunamis.
Por isso mesmo, meu amor, somente me olhe nos olhos e me ame, e finja que mente bastante e me diz que não vai porque ali na esquina é muito distante...............


marco/19.05.2009.

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