terça-feira, 23 de junho de 2009

ANATOMIA SEM AUTONOMIA

O amor é um músculo.
Às vezes se dói por esforço muito, às vezes se distende ou contrai, naturalmente. Outras vezes se atrofia perigosamente e é até preciso fisioterapia.
É claro que isso envolve nervos e tendões, tensões múltiplas. É possível até que envolva questões psiconeurológicas, um amor somatoneuromuscular.
O amor decide ser maiúsculo ou mínimo. Tudo dá-se às condições normais ou anormais de temperatura e pressão. Preciso esclarecer o que são as temperaturas e pressões do amor? De um amor? Pois é!
O amor é um rústico músculo. Pré histórico talvez. Mas em minha estória o amor é uma mácula que decalca todos os momentos e alucina a insônia com suas assombrações.
O amor me exercita e contamina: xarope, cicuta, chumbinho e vitamina.
Músculo e pústula.

marco/23.06.2009.

sexta-feira, 19 de junho de 2009


RESGATE?!


De novo, olhonolho!,
Saiba que não são todas as pessoas que são capazes de amar. Essa é uma verdade descientífica mas da qual se pode ter noção através, às vezes, de um simples olhar. E sim: eis um diagnóstico certo! Saiba disso: nem todas as pessoas tem qualidades imprescindíveis para amar. E há criaturas que já as possuíram mas que, misteriosamente, perdem seu poder de querer bem, de alinhavar um bem, querer em si, de ter o poder de conquistar novamente o fascínio, a dureza, a doçura, a crendice sã que é amar.
Acho que estou passando a ser uma destas. De tanto aprender com outras pessoas. Estou cansado de morrer. Mais de uma pessoa já me assassinou, em seus sentimentos, mais de uma vez. Estou exausto de estar morto. Preciso de alguém que me chame a renascer.
Mas acho que o caso é comigo. Por não ser posse de ninguém. Por somente querer ser possuído por um amor em êxtase ou tesão exacerbado. Acho que é comigo mesmo. E não acho ninguém assim, em ambos os casos.
Casualidades à parte, é comigo mesmo que tenho que ferrar ou folgar meus alicerces e alicates. O resto, se restar, é com você, que lê, me seqüestra as palavras e não envia nem hum bilhete de resgate!

marco/ 19.06.2009.

domingo, 14 de junho de 2009


Os Riscos Das Palavras
(e os riscos de a gente emudecer e achar que está imune aos riscos)


Com uns dez traços se consegue escrever a palavra amor. Mas há outros. Riscos e rabiscos.
Não só aqueles riscos rabiscados nos papéis mas outros maiores, aqueles ariscos, arriscados pelos significados, expressões, gestos. Das palavras. Gritadas em público ou sussurradas no ouvido.
Eu já te disse várias vezes, olhando no olho: amar é majestoso mas se sentir amado é mais que sublime. Mas quando isso cessa é como deixar de ser faraó para mendigar. Quando isso se processa é fogo na roupa, é dose pra leão, é o princípio do suicídio. Do amor.
E, ainda creio, qualquer palavra de amor é melhor do que xingamentos ou sonetos sem destino lançados ao vento.
Por isso te escrevo frontalmente. Olho no olho mesmo sem o olho teu eu te olho no passado e reproduzo no presente. Pode ser sem futuro mas é sincero e corro todos os riscos.
Do desdém, do desprezo, da ignorância, da irrelevância.
Por isso quero citar Herman Torres e Salgado Maranhão na canção “Caminhos de Sol”:
Te amo e o tempo não varreu isso de mim/O amor fez parte de tudo que nos guiou/Na inocência cega, no risco das palavras/E até no risco da palavra amor!

[ouça Zizi Possi cantando no disco ‘Um Minuto Além”]

marco/14.06.2009

sábado, 13 de junho de 2009


DIA DOS ENAMORADOS

Penso em escolher um presente, escutar uma canção, escrever um poema, estender um sentimento. Ou então escolher um futuro, escutar a solidão, escrever um epitáfio, estender os braços e tatear os sins e os nãos.
Penso que gosto mais de enamorados que de namorados. Porque namorados me soam como noivos, casados, compromissados. E não como encantados, envolvidos, amadores. Amadores do verbo amar, sem contratos. Sonhadores do verbo sonhar, sem dores.
Penso que mesmo os viúvos, os divorciados, os separados, mantém um vínculo mesmo que abstrato, com o totem de sua perda. Assim como namorados sustém amarras com seus ganhos, seus ídolos momentâneos.
Penso que enamorados talvez até tentem buscar outro enlevo, suposto maior, chamado amor. Mas tem em sua natureza a independência e o poder de serem fascinados e constantes e dedicados e rompantes, sem aliança mas com elo, sem toque tátil mas acarinhando seu zelo. E mesmo quando sem esperança, enamorados se bastam pois aquilo no que se miram, como um espelho, já faz parte de sua própria substância.
Penso que no próximo momento não vou pensar mais nisso. Mas agora mesmo, penso em fundar um Dia dos Enamorados.
Qual seria a melhor data? Ontem ou amanhã?


marco/12.06.2009.