segunda-feira, 24 de agosto de 2009

VIRAMUNDO

”quando a gente tenta de toda maneira dele se guardar
sentimento ilhado, morto amordaçado, volta a incomodar”
(Clodô/Clésio)


Geralmente meu amor opera silencioso. O que não quer dizer furtivo ou escuso. É só uma questão de temperamento. [Como disse o Walter Franco: tem certos artistas (pessoas) que parecem um cisne deslizando em um lago, aquela mansidão, o movimento plácido, cálido, perfeito; mas se você olhar por baixo d’água, as patas estão estabanadas a mil, para conseguir aquele efeito]. É dessa natureza, é do silêncio que o meu amor se gera. Logo esse que se destempera num repente e briga e xinga e berra, é esse mesmo amor que não se amansa e é feito de promessas. Vãs e vis muita vez mas vai e vem removendo montanhas por sua presença, por sua pessoa. Remoendo mágoas mas tentando transformar as tábuas dos mandamentos em coisa que se prestasse mais ao amor que à vingança, mais ao sabor que ao insosso, mais ao saber que ao tabú, mais ao bem querer que ao mal poder. É da natureza o sonho e a desilusão, o aguaceiro e a seca, catorze bis e asas de cera, meia vida e inteira morte.
É sem sutileza que realmente gostaria de te escrever. Sem justiça mas com justeza, com pés rachados mas com realeza. Só para ver se você merece, se te apetece a mentira justa desse que te jura e não é de morte, desse que te mira e não é com tiro. Só para ver se você se esquece, se se compadece com a verdade crua desse que te caça mas não é pra corte, desse que te acua mas não põe mordaça. Quando é legal meu amor se esmera em gentilezas. Quando perde a lei ele se ferra em cravos que ninguém inveja. Não te quero com guirlandas de bridas, não com colares de viramundos não te quero. Minha. Já basta minha senda, eu sendo seu súdito. Não te quero minha. Te quero sua. Sua todo o preciso para engendrar a vida, ferve nos poros tudo que se fizer necessário para um novo amar. Não te quero mais. Me basta ser teu, demasiado para não querer saber os seus rumos, roteiros ou descaminhos.
Não quero saber aonde ainda, obrigatóriamente, você vai me levar.


marco/24.08.2009.


p.s. - conto verdades sem maldade em seus ouvidos, aos sussurros / canto mentiras salivadas sem tortura em suas orelhas, aos gritos.

Um comentário:

  1. Como se eu fosse ela, como se eu fosse tua
    bela dama nesse tabuleiro onde você se perde em jogo de vida e de morte.
    Como se eu fosse essa tua dona que te incendeia, que te afoga, que te enterra a lâmina até o cabo.
    Como se eu fosse ela, tua senhora, sacerdotisa que tem a audácia de virar as costas para teu corpo imolado em sacrifício. Aquela que te gargalha, te chora, te enxovalha. Verônica que te enxuga as lágrimas. Aquela que em ti é permanência, fugacidade e solidão.
    Como se eu fosse ela, como se eu fosse tua dona.

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