segunda-feira, 19 de outubro de 2009

SEMEADURA

não devo nada e por isso é que é mais gostoso, mais engenhoso, mais saboroso escrever para quem pensa que é secreto mas que se desmente sem desgosto por que sabe o quem é, a que vem, ao que vai, sabe que me sela e me escoicea, sabe que serve de trela de quem nem te alardeia, sabidamente se esquece entre fusas e colcheias, entre ralas e relas, entre casas e pomares repletos de mangueiras. para melhor fazer a sala e o sabor das compotas de prazeres que brotam das jarras mas também das taças entre as pernas onde o amor e o tesão e se derramam e se despenteiam.
não peço nada e por isso é pavoroso quando tu não me vens numa sexta-feira. e deixa um fim de semana vago como um fogofátuo entre a nova e a lua cheia. por isso posso ser romântico, semântico, rimado, risonho, climático ou bisonho, conforme eu mesmo queira. é bom escrever a quem sei que me lê mesmo que em entrelinhas, mesmo que seja a senha e não a chave o que nos entrave, mesmo que corra o risco de que você me escrave ou que eu te seja um serviçal em retilíneas.
adoro inventar palavras, caminhos na estrada, não quero de ninguém nada e se te dou guarita é porque sinto que é minha sina, meu momento. não prezo juros, dinheiros, cobres, pratas, ouros, mentiras, tenho ótimos parceiros. no tom e na melodia, no verso e na harmonia, melhor é criar destinos do que ser desfiladeiro.
melhor é singrar os mares se afogando ilha a ilha, náufrago sobrevivendo a cada maré e lua: ser momento, ter passado, fazer o futuro respirar a todo tempo.
por isso é que me iluminas, por isso farol te vejo, por tudo que é mais secreto, por tudo que é mais sagrado, por isso me queres próximo, por isso te espero sempre, por tudo que é mais mistério: um fruto de uma semente.

marco/20.10.2009.

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