sexta-feira, 10 de julho de 2009

PERDIÇÃO

É como se perder na cidade onde se nasceu e viveu toda a vida.
Perder um grande amor é assim.
Não se reconhece as esquinas, os nomes das ruas, os endereços dos amigos, os bares, os teatros, as praças, os aromas , os ventos, o salitre, as praias, as áreas perigosas,
o araribóia, o tomé de souza, a viradouro, o ilê ayiê, o tatuí de itaipú, o sargaço de itapuã.
Não se sabe mais nada de nada e muito menos se sabe quem é aquela cara que te encara no espelho. Aquele cara.
É como se ignorar e se está vivo e, se por acaso estiver, ter ainda a cumprir algum destino, desgraçadamente.
Assim é perder um grande amor.
Não se respira, come, enxerga, toca: geralmente se bebe e sonha mas somente sorvendo álcool e dissolvendo horizontes. Nada de sabor ou novos planos. Nada de tudo de bom, nada.
É assim: fui embora e esqueci (ou não tive oportunidade) de me despedir de mim. Fiquei na gare, no cais, na porta de casa, me vendo ir sem saber pra onde.
Perder o grande amor próprio, propriamente é assim.
Se esborrachar no chão do saara vindo diretamente do pico do himalaia.
Assim é perder o próprio amor, grandemente assim, enormemente ruim.

“eu não moro mais em mim”
adriana calcanhoto.


m.25/05/2009.

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