sábado, 3 de outubro de 2009

DIETA

engordei dez quilos. foi o amor ou a falta de amor o que fez isto? não sei responder, eu que nunca tive balanças em nenhuma das casas que já habitei. será questão matemática, tecnológica, genética, biofisiológica? ou é tudo disso um tudo ou nada disso um pouco? mas eu desconfio sempre do amor. ele é capaz de tudo, às vezes incapaz e de nada. sempre o desprezo quando quer me beijar e o atrelo na vez que cisma de me pisar. por isso desconfio, pavio, corda, corrente, descontinuo de dar o ombro quando o amor quer vir se lamuriar. mas também não dou de ombros se acontece de se aprochegar.

engordei dez quilos nos últimos seis meses. eu que sempre fui magro de rúim ou de ruím, sei lá, e ainda por cima esta máquina corrige meus assentos e não me respeita. não que eu ache um mal este pesar a mais, este é o menor de todos que a vida me trouxe, não que eu ache que é um bem este pesar. só não sei porque agora, nesta época, neste período, neste clima, nesta quinta-feira que não tem nada de especial, assim como a semana e o mês e o ano de dois mil e nove também não se reteve em nada de essencial. só mesmo muito do mesmo e nada de mesmo novidade ou surpresa. mas milagres existem, principalmente para quem neles não acredita. mas é que depois de salgar mil acres de desassossego, ninguém quer mais crer nem em vinagre, quanto mais em azeite.

engordei dez quilos e continuo magro. me falta poesia, careço de artimanhas de Waly Salomão, de perspicácias de Itamar Assumpção, de tragédias de Torquato Neto, de delicadezas de Ana César. eu peço não com fome mas com um fastio de inutilidades: me dêem, vivos, toneladas de motivos, pirâmides de razões, contêineres de emoções, silos de improvisos. não para seguir assim a nossa vilipendiosa vida mas para permanecer respirando dentro da tragédia, para inalar o drama e ser e estar leve e ativo. e ser um ser de dissoluto sucesso. plenamente avesso.

marco/24.09.2009.

Nenhum comentário:

Postar um comentário