sexta-feira, 2 de outubro de 2009

TENOR

enquanto eu canto as minhas músicas, ouço dentro lá de dentro múltiplas vozes que não sei de qual cavernas vem, é uma baderna o meu coração quando escuto e canto as minhas músicas. enquanto eu sinto o ritmo e a melodia e a minha palavra se faz voz, sílaba por sílaba, isso me faz bem. ainda que me morda e retese e grite para dentro e chore lágrimas que nunca chorei. e se disserem que sim, juro que renegarei, ou melhor, vou processar o dono dessas palavras de lágrimas, pois que nunca chorei na vida, nem na ante vida e nem na postem vida eu hei de chorar, não chorarei. por toda lama esculpida, cataratas de camarões na festa bendita, por todos os lemas, bandeiras, causas e guerras perdidas, não chorarei.

enquanto canto minhas músicas, minhas e de meus parceiros - e de outros terceiros, porém minhas - choro de lembrança e de um amor que me anima, coro de prazer naquela linda rima, poro a poro me arrepia e eu sinto mais que uma baía, mais que uma bahia, mais que um umbigo ou uma cidadania, sinto mais que a Guanabara, que a Todos Os Santos, ou mesmo Camamú, sinto desde os intestinos essa agônica beleza que contagia não como sentimento mas como benéfica moléstia, eu soro todo alimento que me dão melodia e letra em harmonia.

enquanto canto minhas músicas eu prezo a todos os santos, todos os deuses, todos os encantos que me fazem ser vivente, que me fazem ser valente, mesmo quando a vida é adversa, mesmo quando o coração fica inquieto, mesmo quando a vida se torna às avessas e o amor se faz perverso.

enquanto canto minhas canções sou somente um poeta delirando melodia e verso, ser sem eclipse ou plenilúnio, não sou aborto e muito menos feto.

enquanto as canções vão rondando os ouvidos e eu destaco as que amo e as que eu não detesto, nem faço o favor de calar ou cometer comícios, só ouço seus sons e me reservo.

mas quando canto as minhas músicas, canções que eu mesmo cometi, em cada sílaba, interjeições e verbos, que medi com parceiros cada sintoma, doença e sugestão de toda e qualquer uma sentença, palavra, locução, louvação ou impropério; quando ouço, e recanto minhas canções, vejo um império: tudo o que eu sempre quis foi cantar canções que me fizessem chorar, rir, pensar, sonhar e desistir. eu sempre me quis ser tanto o vitorioso como o derrotado, frustrado e aprendiz.

enquanto canto belas canções, rindo ou chorando, eu sou feliz.


marco/21.09.2009.

"em mim o eterno é música e amor."
Caetano Veloso.

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